Indico o texto a seguir que resume o pensamento Biocêntrico e que acredito ser um bom começo para pensar o nosso Paizinhos, porque, nas palavras de Rolando Toro criador do sistema Biodanza, originariamente os pais constituem a matriz ecológica dos filhos.
Apontei aqui um trecho do texto completo que está disponível em:
www.prorext.ufrgs.br/nucleos/niete/texto-feliciano2.doc
Existe um material bem vasto disponível na rede para quem se interessar por esta pedagogia de afeto. Aqui procurei focar a pesquisa à relação pais e filhos.
Educação Biocêntrica: Por uma Educação centrada na Vida
Ao ser proposta uma Educação centrada na vida torna-se necessário esclarecer o que se pretende com cada termo utilizado.
O conceito de Educação pode ser examinado na visão de diferentes autores. O sentido que usamos resulta de uma interpretação das raízes etimológicas da palavra: ex = para fora; ducere = conduzir, tirar. Assim, entendemos que Educação é o processo de possibilitar e incentivar o ser humano a “sair para fora”, expressar todas as suas potencialidades, tirar de dentro tudo aquilo que o revela como “ser humano”.
Quanto à idéia de vida que pretendemos apresentar aqui, esclarecemos:
1º - Vida, no contexto que a tomamos, não significa apenas a experiência do cotidiano no sentido da “vida que a gente leva”. No entanto, ao dizermos que “não significa apenas”, queremos assegurar que significa também o “viver de cada dia”.
Este viver passa a ter um significado especial, mais saboroso e nobre, quando o vivemos impregnados de um sentido mais profundo de vida.
2º - Vida, no contexto que a tomamos, não se limita, também, apenas às propriedades biológicas dos chamados seres vivos. Não obstante, consideramos que este aspecto, o biológico, não está fora da concepção de vida que queremos apresentar.
Quando usamos o termo Vida, aqui com letra maiúscula, como centro de um processo educativo, queremos significar “vida como expressão existencial”.
Sem pretender entrar no campo filosófico, entendemos que existimos porque estamos vivos, somos porque nos damos conta da manifestação da vida em nós.
E a vida em nós é o que realmente podemos chamar de milagre.
Cada um de nós, em particular, é o resultado de milhares ou milhões de encontros entre pares humanos que se reconheceram e, muito provavelmente, se amaram. De cada encontro se originaram outros seres humanos que novamente se encontraram, se amaram e deram continuidade à procriação de outros pares, até chegarem aos nossos pais. Estes, a partir de células vivas saídas de seus corpos, possibilitaram a formação de nosso corpo vivo. Somos, portanto, biologicamente, a continuidade, sem interrupção, de fusões e multiplicações celulares, cuja origem se perde na origem da própria vida sobre a Terra.
Quanto aos encontros originários, podemos quase garantir que, se um deles, e apenas um, não tivesse ocorrido, certamente não estaríamos aqui agora. Somos, portanto, cada um de nós, o milagre dos encontros que se deram na forma que se deram.
Somos, também, e cada um de nós, formados por um corpo constituído de um aglomerado de células, cujo conteúdo vem passando, sem interrupção, de dois corpos para um outro, através das gerações. Assim, graças a esta teia de relações que nos precede, somos todos parentes, somos todos irmãos.
Assumindo que a Vida em nós é o milagre dos encontros que nos precederam, nos sentimos na obrigação de reverenciá-la como a manifestação do Sagrado.
A Vida é, portanto, uma Hierofania.
A Educação Biocêntrica visa a conexão com a Vida.
Propondo uma inversão paradigmática, a Educação Biocêntrica objetiva a expressão da Identidade e a construção da Autonomia através de um processo de dentro para fora.
Reconhecer o outro implica muito mais do que uma atitude ética: significa desenvolver pelo outro uma relação emocional que se exprime na afetividade, no amor incondicional aos semelhantes, na relação fraterna, solidária e altruísta.
A Autonomia se constrói a partir das potencialidades do ser humano, daquilo que cada um é como indivíduo, daquilo que recebeu como herança genética.
A prática da Educação Biocêntrica, portanto, exige uma mudança existencial de paradigmas e uma nova maneira de ver o mundo. Devemos abandonar o antigo paradigma antropocêntrico e assumir como fundamento de vida um Princípio Biocêntrico, que considera a Vida como valor supremo e como manifestação hierofânica do Sagrado.
Um comentário:
Este texto fez muito sentido para mim. Acredito firmemente nesta proposra de educação. Na formação autêntica de uma identidade e de autonomia. Como o texto diz, precisamos rever alguns paradigmas. Espero que todos façam uma reflexão sobre suas escolhas e a maneira como nos dedicamos e encaramos estas escolhas para nossas vidas.
A medida que precisamos sempre ser cobrados sobre o que temos ou não que fazer, não estamos mudando paradigma algum. Sobre isto que falei na reunião de 04/04.
Tenho muitas questões levantadas sobre o que a Carol falou a respeito de "mãe é só uma, mas pai pode ser qualquer um"; e sobre o que o Val falou sobre"devermos construir a dramaturgia dos paizinhos em cima do significado filosófico do Pai Maior ou das etnias colonizadoras do Paraná em detrimento de relações cotidianas de pais e filhos. Lembrem-me de comentar alguma coisa no próximo encontro.
De tudo isto, sugiro que pesquisemos a figura do Semeador. Existe esta figura em alguns mitos? Existe esta figura no nosso imaginário? como ela se apresenta hoje para nós?
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